Um diagnóstico precoce para detectar doenças degenerativas do cérebro e uma terapia integrada que permita recuperar lesões vertebro-medulares traumáticas. São estes os objectivos dos projectos de investigação premiados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Dois prémios de investigação atribuídos a duas equipas, quase todos investigadores portugueses que vão ter 200 mil euros de financiamento para fazerem o seu trabalho por cá.
Ana Cristina Rego é professora auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e é a investigadora responsável do Centro Neurociências e Biologia Celular, de onde partiu um dos projectos premiados, que tem por base a doença de Huntington, uma doença rara que afecta cerca de 40 pessoas em Portugal.
Ana Cristina Rego explica que o estudo pretende abrir portas para outras doenças degenerativas, na medida em que “apesar de não existirem muitos casos desta doença, existem modelos nos animais e modelos celulares e, portanto, acaba por ser um modelo para outras doenças como o Alzheimer e o Parkinson”.
Partindo deste facto, os investigadores pretendem avaliar situações precoces da doença. O projecto vai envolver, numa primeira fase, modelos animais (ratos transgénicos) que vão ser estudados e que devem permitir resultados dentro de um ano. Depois, será feita a utilização de um radiofármaco que será testado nos doentes. Este processo irá permitir “uma imagem, uma avaliação em determinados locais, a nível cerebral, de evidências de stress oxidativo, isto é, o aumento da formação de radicais livres nesta zonas, porque nós sabemos que o stress oxidativo está na base da morte que ocorre a nível celular, neuronal e de células nervosas”.
Os investigadores vão estudar uma amostra de doentes, no caso, os que são acompanhados pelo Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra. Este projecto foi distinguido pelo prémio Mantero Belard.
Já o prémio Melo e Castro foi atribuído ao projecto de desenvolvimento de uma terapia integrada para lesões vertebro-medulares (LVM) e que vai ser efectuado pela equipa do Instituto de Ciências da Vida e Saúde, Laboratório Associado da Universidade do Minho.
António Salgado é o investigador responsável da equipa multidisciplinar, composta por profissionais que actuam numa área que não tem tido muita atenção e que precisa de “massa crítica”.
O projecto aposta numa abordagem integrada. “Normalmente quando vemos trabalhos a falar de regeneração de LVM, falam ou de aplicação de fármacos, ou no transplante de células, ou na utilização de matrizes artificiais biodegradáveis que promovam a regeneração. O que nós pretendemos com este projecto é fazer uma interligação integrada entre as diferentes áreas, através de uma abordagem multidisciplinar”.
António Salgado reconhece que o resultado pretendido é ambicioso, pois poderá ter efeitos práticos na qualidade de vida das pessoas com lesões traumáticas, por ex. quando uma pessoa perde a mobilidade por acidente.
Mas recusa apontar falsas esperanças. “O que vamos fazer são experiências em modelos animais, que nos vão dar um conhecimento alargado, e que no futuro, nos vão permitir a melhoria da qualidade de vida das pessoas afectadas por este tipo de Lesões, que são bastante graves”.
O projecto vai implicar apenas investigação em modelos animais porque será cedo para testar a terapia em seres humanos.